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A diversificação agrícola em Araguari nos anos da década de 1970, por Milton de Lima Filho

Dr. Milton de Lima Filho (*), autor do presente texto, em foto de 2008.

"Corria o ano de 1970. Ano eleitoral. Eleições municipais.

População participando apaixonadamente da campanha.

Realizadas as eleições. Urnas fechadas. Votos apurados.

Fui contemplado com o direito de governar a minha cidade por um mandato de apenas dois anos.

O município passava por um longo período de estagnação e conseguia superar a crise da agricultura, que nem arroz se plantava mais e tudo se agravou com a transferência da sede da Estrada de Ferro Goiás.



O desemprego atingia índices assustadores. O campo abandonado.

O êxodo rural era frequente e intenso. A situação era realmente preocupante, sobretudo para mim, eleito pelo Partido da oposição. Eu propunha, em campanha, a encontrar soluções que viabilizassem melhores dias para o município.

Particularmente no meu caso, a situação se agravava ainda mais pelo fato de ter sido, como já disse, eleito por um Partido da oposição, no auge da ditadura militar, sendo que a maioria avassaladora dos municípios tinham eleito candidatos governistas.

Assim, seria impossível contar com qualquer apoio dos governos Federal e Estadual.

As comemorações da vitória continuavam em toda a cidade, as esperanças teriam que se transformar em realidade, os compromissos teriam que ser cumpridos, a alegria da vitória haveria de permanecer durante todo o meu governo.

A industrialização era o grande sonho, o caminho seguro e certo para a geração de empregos e, com certeza, o tema mais explorado nos palanques.

Antes de tomar posse, com o objetivo de atrair indústrias, visitei várias cidades do Estado de São Paulo, com dedicação maior às do ABC.

Convidei dirigentes, potenciais investidores, para conhecerem as potencialidades de Araguari, oferecendo-lhes incentivos fiscais, doação de terrenos e toda uma infraestrutura necessária.

A ausência de matéria-prima e a proximidade de Uberlândia, que recebia todos os incentivos do Estado, parecia neutralizar toda nossa argumentação.

A industrialização sonhada ficava cada vez mais distante.

Sem perder o ânimo, ansioso para tomar posse, mas ao mesmo tempo, ciente das dificuldades que encontraria na gestão do município, faltando menos de um mês para assumir a Prefeitura, tive a grata satisfação de deparar-me com um artigo publicado nos Jornais locais, nas suas edições de 20 de dezembro de 1970, com o título de “Sugestões para o desenvolvimento de Araguari”.

Entendendo haver coerência e segurança nas propostas, eu me dirigi à residência do Tenente Expedito e, por longas horas, discutimos suas sugestões.

Pelo exíguo prazo de meu mandato - dois anos – e visando maior objetividade, elegi como prioritárias quatro sugestões: o café, o maracujá, o bicho da seda e o fomento ao turismo.

Percebi o altruísmo do Expedito já no primeiro e encontro. Sem nenhum interesse, como autêntico voluntário, sem reivindicar nenhum cargo na Administração, o nosso tenente expedito se comprometeu a visitar municípios do sul de Minas e do interior de São Paulo, às suas expensas, em busca de dados e experiências que pudessem ser aplicadas em nossa cidade.

O passo inicial foi a promoção de reuniões com produtores rurais do nosso município promovidas pela Secretaria de Agricultura, sob o comando de Fábio de Oliveira, onde o Expedito palestrou sobre a viabilidade econômica dos citados produtos, com maior ênfase no maracujá, sobre a conveniência de se implantar essa cultura em Araguari.

O descrédito, justificável pelo próprio histórico da monocultura do arroz no município, foi acentuado, demandando a vinda de técnicos de Votuporanga para narrar o sucesso da diversificação agrícola naquele município.

Mais uma vez a medida não foi suficiente. Partimos então para solução inversa, levando os nossos pequenos produtores, em várias caravanas, à Votuporanga, cuja realização deixou marcas indeléveis nas nossas memórias, em decorrência de percalços de toda ordem.

Lá, perceberam que não havia exageros, que a agricultura era a vocação de Araguari, e perceberam que podiam ter dias profícuos sem sair do campo.

Tudo isto foi apenas o começo. O que decorreu daí todos nós araguarinos sabemos.

As indústrias atraídas pela matéria-prima, fez ocorrer o renascimento da cidade a partir dos sonhos do Tenente Expedito.

Araguari, ainda hoje, se destaca pela produção de sucos concentrados (...)

As medidas de diversificação tinham que continuar. Parti para o Paraná e lá, em rede de televisão, convidei produtores rurais para que visitassem Araguari.

Em programa de mais de uma hora, projetei slides mostrando a topografia plana do nosso município, a abundância de recursos hídricos e a facilidade de financiamentos.

Seis dias após essa minha explanação, recebemos, vindos de Cianorte, liderados por Antônio Barão, João Delvas, Salvador Fagoti, Martim Afonso, dentre outros produtores, os pioneiros do café em Araguari e logo adquiriram terras no município, trazendo experiência e a tecnologia cafeeira, enriquecendo a nossa agricultura com o ouro verde.

Estava consolidada a cafeicultura em Araguari, dando exemplo a municípios do Triângulo e Alto Paranaíba.

Hoje produzimos os melhores cafés do mundo."

* Milton de Lima Filho foi prefeito de Araguari nos mandatos de 1971 a 1973 e 1997 a 2000. Foi também deputado estadual de Minas Gerais, da 8ª à 10ª legislatura (1975 - 1987), pelo MDB, e deputado federal constituinte por Minas Gerais na legislatura de 1987 a 1991. O presente texto foi extraído do prefácio do livro "Traços de Minha Vida", livro biográfico de Expedito Ferreira dos Santos, ex-secretário municipal de governo nas secretarias de Agricultura e Desenvolvimento Econômico de Araguari.

2 comentários:

  1. Onde consigo o livro "Traços de Minha Vida"?

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  2. Tempos em que se fazia uma politica honesta, e que valia a pena comparecer as urnas. Esses homens realmente pensavam e se preocupavam com o desenvolvimento da nossa cidade, não faziam pensando na próxima eleição.

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